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Benfica

A tempestade perfeita

Banho de realidade! Foi um banho de bola! Foi um banho tático. Muito difícil de digerir mas também não adianta nada fugir ao que se passou no clássico da 27ª jornada entre Benfica e FC Porto. Ou criar realidades paralelas para encontrar problemas onde não os há.

Ora bem, há quem ache que o grande problema para o bailinho que o Benfica levou do seu rival tenha sido o ambiente… Amigos, claro que o ambiente não foi dos melhores mas o Sport Lisboa e Benfica tem uma das melhores bases de fãs da Europa. Nem venham comparar a grandeza e a disponibilidade, num dos países em que o povo tem menos recursos no velho continente, com outros emblemas grandes europeus. Como temos dito presente durante toda esta temporada! Muito antes de se começar a jogar e a ganhar! Como temos acreditado desde o 1º minuto depois de 3 temporadas de enormes desilusões e humilhações. Somos incomparáveis!

O real problema

Roger Schmidt voltou a ser dominado por um treinador português de topo. Esta é a verdade. E não há ninguém mais do que eu que queira que ele fique cá muitos e gloriosos anos. Mas onde anda a exigência de tantos e tantos que não deixaram outros treinadores dos encarnados respirar, quanto mais errar de forma tão evidente?

É uma das caraterísticas do nosso futebol: temos dos melhores estudiosos e capacidade de focar nas forças dos rivais. E sabemos anular como ninguém as valias do adversário de 90 minutos. José Mourinho era assim, Villas Boas também e Rúben Amorim e Sérgio Conceição são assim. Roger Schmidt não é. Duvido que perca mais de 2 ou 3 horas por jogo a preparar e tentar anular as forças do rival. Já tinha ficado evidente nos jogos grandes portugueses. E ele diz isso à boca cheia nas suas frontais interações com os media. Pode até não ser mau… É muito forte a montar a sua ideia de jogo e isso vale vitórias em 80% dos jogos da nossa Liga mas não esperem que ganhe muitos clássicos, pelo menos até ter a sabedoria para mudar a maneira como vê estes jogos e estes adversários.

Como é possível o Benfica ter parecido assustado com a faca nos dentes com que o FC Porto apareceu na Luz? Todos nós sabíamos que ia ser assim e mesmo com uma vantagem no marcador a equipa pareceu sempre a medo e pouco preparada mentalmente. Mas isso não é um bloqueio de medo ou ansiedade é um bloqueio tático. É a outra equipa saber o que estava a fazer em todos os momentos da partida e a nossa não.

E mais, além da nossa incapacidade é preciso reconhecer que o FC Porto fez um jogo a roçar a perfeição. Sérgio Conceição escolheu magistralmente os pontos de pressão ao rival e a sua equipa cumpriu na perfeição o plano. Isto é que decide jogos e é preciso dizer isto. Até para não se repetirem os mesmos erros.

Fragilidades individuais

Perdemos porque a situação de Enzo Fernández foi super mal gerida e vendemos o nosso melhor médio no último minuto do mercado e não fomos buscar ninguém para o seu lugar. Só alguém cego por clubismo pode achar que, para estes jogos grandes, um meio campo de Aursnes, Chiquinho e Florentino é melhor que um meio campo campo com Otávio, Grujic e Uribe. Não é.

Fomos derrotados porque desde cedo nesta temporada se percebeu que a forma de anular o SLB é impedir que os centrais recebam a bola com facilidade. Vlachodimos é muito mau na distribuição. A sério? Há quanto tempo sabemos isso? Qual foi o plano para impedir que isso fosse explorado? Pois… Se vamos continuar a tentar fazer dele um Neuer vamos sofrer ainda mais. Há jogos em que mais vale jogar longo e direto mas preparar a frente de ataque para isso. E tem em Musa e Tengstedt essa solução..

O plano para fugir a esse defeito do GR tem sido a introdução de António Silva no 11, ele que, nem de perto nem de longe é o 2º melhor central do plantel mas joga por ser o melhor no passe e na saída de bola. Mas o nosso Toni, pela sua tenra idade comete erros e no timing de desarme e quando apanha um avançado com corpo e experiente tem mostrado ser um jogador mediano. Mas com muita margem de progressão mas já custou caro nos dois clássicos na Luz que jogou.

Perdemos porque Gilberto e Ristic nunca foram real aposta do treinador. De forma inexplicável. Ter Gilberto no plantel para ele jogar 30 minutos de 10 em 10 jogos é procurar com muita força ser infeliz. O defesa brasileiro é um jogador que precisa de estar envolvido, precisa de ritmo, não pode ser o fundo do banco, ou então quando o chamam vão levar com 30 minutos em que ele está à procura da gravidade. Eu gosto de Gilberto e acho que bem aproveitado pode ser um solução interessante de plantel mas assim é queimar o atleta.

As patéticas férias

E por fim perdemos por andar a dar uma semana de férias quando o plantel respondeu mal nas outras situações em que teve esse direito. A situação de Rafa é gritante. O jogador foi claro que preferia ter umas feriazinhas no tempo que podia estar na Seleção do que treinar. Sempre que tem essas férias aparece completamente fora de forma e o treinador insiste nele com o melhor desequilibrador do plantel a comer banco. David Neres > Rafa, e não o acho de hoje.

Ah, e já me ia esquecendo dos milhões que se gastaram em dois projetos de jogadores, Tengstedt e Schjelderup, no meio de uma temporada que gritava por soluções na frente. Que raio de tão negativo mostraram ao treinador para não terem nem 1 minuto?

Estava montada a tempestade perfeita e correu tudo mal nessa fatídica 6ª feira santa. O mais provável é não termos essa infelicidade e incapacidade até ao fim da temporada mas não me venham dizer que a culpa foram os benfiquistas nas bancadas.

Não é isso que estou a escrever

Muitos vão entender que estou a vender é que Schmidt é o pior treinador do mundo mas vão ficar muito longe de entender o que aqui se escreveu. Tem forças e tem fraquezas. Esteve mal. No jogo em que era mais importante não cometer erros, pois o adversário iria aproveita-los a 300%, não trouxe nada de novo e teimou quando já se via que não ia resultar. Mas seguimos caminho, e tem a sorte de o próximo desafio até ser para outra competição, onde todos os jogadores querem estar, possibilitando assim a tão desejada mudança de chip que sempre se fala depois de uma derrota tão dura como a deste clássico.

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9 Comentários

9 Comments

  1. Anónimo

    Abril 9, 2023 at 1:36 pm

    Queres comentar a agressividade acima das regras que o arbitro deste jogo permitiu desse início aos jogadores do Porto?

    Gravatas feira sem disputa de bola, Cotoveladas nos testículos, entradas por trás com entorses do joelho ?

    Estamos a falar de que aos 26 minutos, num jogo de arbitragem rigorosa, o Porto estaria com 9… E isso não desculpa os defeitos que apontaste e muito bem. Mas o crescente encolhimento da equipa também terá a ver com esta carta branca pra agredir e lesionar que Soares Dias transmite aos jogadores da sua cidade.

    • JotaPê

      Abril 9, 2023 at 1:39 pm

      Hahahahahahahahah

  2. JotaPê

    Abril 9, 2023 at 1:38 pm

    Um óptima análise, parabéns pela clarividência.

    A dura realidade, essa p*ta que “mata” o Benfica. De um lado a realidade do adepto, aquela onde chiquinho é uma estrela, quiçá melhor que Enzo. Do outro lado, o Benfica real. Não vale a pena dizer qual é, porque é o que venho fazendo aqui frequentemente…

    Agora é esperar para ver o que aí vem. Preparar a eliminação na champions, o normal. O campeonato é está mais que feito, este Benfica é optimo para consumo interno…

    Ps: nao esquecer que o Benfica é actualmente dirigido por arguidos. E isso é vergonhoso. Nada o apaga, muito menos a época bem conseguida…

  3. Pedro Ribeiro

    Abril 9, 2023 at 9:47 pm

    Estimado, algumas notas, se me permites.

    1. Entendo a frustração, mas o Porto já vinha preparando este jogo desde a paragem das seleções enquanto o Benfica parou nesse período e, depois, teve um jogo sério em Vila do Conde (o Porto teve um jogo-treino).
    2. O futebol do Porto é talhado para anular o adversário, mas em si mesmo é feio, é o antifutebol sistematizado. Não dá mesmo para admirar aquilo, cuja única virtude é a eficácia em jogos grandes. O futebol do Porto é de domínio sem bola, arma das equipas pequenas, que tem por base o medo de sair a jogar (risco 0). No jogo do Dragão, eles iam tentando sair, mas sem sucesso (lá têm de o tentar porque jogam em frente dos seus adeptos). Por isso, foi mais dividido incluindo antes da expulsão.
    3. Soares Dias consentiu a agressividade deles. Deu 6 minutos na primeira parte devido às paragens. Na segunda parte, também deu 6 minutos, mas, além das inúmeras paragens (forjadas, a maioria), ainda houve as substituições. Na 1.ª parte, deu descontos sobre os descontos (o Porto pressionava). Na 2.ª parte, não deu. A condução do jogo foi medíocre. Florentino vê amarelo na primeira falta. Otávio e Uribe, não. No capítulo disciplinar, foi implacável com o Benfica, manso com o Porto. Outro exemplo: Gilberto vai falar na cara de Grujic que entrou violentamente sobre Rafa. Vê imediatamente cartão amarelo. O árbitro interpõe-se. Pepe entretanto empurra Gilberto. Também é conduta antidesportiva, não vê cartão. No lance do Galeno com o António Silva, o Soares Dias viu as provocações do Galeno (como as do Gilberto) mas não se interpôs. Parece que esperava uma reação do António Silva. Um último exemplo: Diogo Costa nunca viu cartão amarelo apesar de ter queimado imenso tempo nas reposições (gozou quanto quis). Soares Dias nunca sequer pediu a nenhum jogador do Porto para acelerar fosse o que fosse. Depois do 2.º golo deles o árbitro consentiu o antijogo.
    5. Quando era pequeno, lá no bairro, às vezes vinha malta mais “da pesada” jogar connosco. Ao mínimo despique, eles tentavam agredir, empurrar, deitar ao chão. Ameaçavam, etc. Nós deixávamos ganhar. Não dava pica, não tinha piada. Queríamos que acabasse rápido porque não se jogava à bola. No fundo, no futebol português, as instituições protegem e elogiam este futebol abjeto do Porto, de grunhos, de bullies. É abjeto mesmo que muito trabalhado do ponto de vista defensivo e da pressão (eles fazem um corte e atingem com a perna de propósito, saltam e atingem com o braço etc., para pôr nervoso, provocar expulsão). Taticamente é o que é e estrategicamente só cá dentro tem resultados (lá fora vai dando luta, quando dá).
    6. O antifutebol criticado e sancionado pelos árbitros e treinadores internacionais é vangloriado cá dentro. Porquê? Porque quem ajudou a criar as instituições desportivas portuguesas foi Pinto da Costa. Ele é o pai do sistema, nas instituições, ‘quem manda’ é seu vassalo. No jornalismo também: entre os avençados, os cobardes e os vassalos, a grande maioria está do lado deles. Soares Dias, no jogo, não queria marcar faltas no meio-campo do Porto (há uma falta clara do Manafá, logo no início, para cartão, que ele ‘não vê’). Quando eles caíam, era sempre sancionada uma falta (o primeiro golo deles, aliás, nasce de um mergulho de Wendell no meio-campo).
    7. Roger Schmidt, na antevisão, disse que queria manter a identidade. E o Benfica tentou jogar. A fragilidade psicológica do Benfica é uma: tentava e tentava sair a jogar e não podia, ora por faltas ora por desarmes/cortes. Isso vai moendo e criando dúvidas (será que o nosso processo é bom?). E o Porto não se deixava pressionar, mandava bilhete para a frente (sorte deles terem o Diogo Costa). Houve aqui uma clara fé de Roger Schmidt no processo. Ficamos sem perceber se a ineficácia desse nosso processo se deveu a falta de qualidade tática, técnica ou ao adversário. Um pouco das 3, acredito.
    8. O Benfica não quis enfrentar isto – por agora, não precisará. Na época seguinte, poderá precisar se o campeonato for mais disputado (e quase de certeza que vai ser mais disputado). Como o fará? Deverá ser procurando, por exemplo, sair a jogar de outra forma nestes jogos para confundir o adversário. Tanto de forma apoiada como de forma longa se for preciso. Nunca deverá tentar reagir a provocações. Nesse aspeto, a forma como António Silva reagiu, no final do jogo, é exatamente o que eles querem. Sobre isso, vejam a atual época do Sporting. Amorim foi o primeiro a vacilar. Depois jogadores, estrutura etc. O jogo Porto-Sporting da época passada foi um dos episódios mais negros do futebol português. Um clube organiza uma emboscada em pleno jogo e as instituições… assobiam para o lado. Como assobiam no caso do roubo dos nossos e-mails etc. No lodo vamo-nos afundar, tal como o Sporting. Temos que manter a nossa identidade, procurar jogar cada vez melhor, reforçar o plantel. Se quisermos ser bullies como eles, as instituições e os árbitros não serão condescendentes.

    • JotaPê

      Abril 9, 2023 at 10:55 pm

      “Como assobiam no caso do roubo dos nossos e-mails etc.”

      Como os sócios e adeptos assobiam para o lado por terem uma direcção arguida. No fundo, anda tudo a assobiar para o lado. É só assobios… e é de assobio!

      • Pedro Ribeiro

        Abril 10, 2023 at 10:39 pm

        Amigo, eu falo da relação das instituições com os clubes. Não dos sócios com os clubes. Mas sobre isso, em Portugal, não há sócios mais acéfalos que os do FCP. De longe.

  4. Tiago

    Abril 11, 2023 at 7:24 am

    Concordo com quase tudo. Muito clarividente. Aliás, eu nem sequer vi o jogo, por já temer que o desfecho seria o que foi. É muito evidente a incapacidade do Benfica em se adaptar ao adversário (sobretudo nos jogos em casa).
    Foi uma grande lição para o nosso treinador. E julgo que ele a aprendeu bem! Para o bem e mal, o Schmidt entrega a batuta aos jogadores e não é maestro da táctica. Logo vemos quem trás melhores resultados no final da época!

    Quanto ao tema do adepto: os benfiquistas são muito “tranquilos” no apoio nos jogos em casa… a Luz não é um “circo de feras” nem um “covil de lobos e dragões” que outros estádios conseguem ser! É uma “Catedral” e os adeptos deixam-se influenciar por isso em momentos difíceis. São famílias inteiras a assistir ao jogo, confortáveis e bem vestidos para ver o Benfica jogar… não estão la para se chatearem… ou estão apenas 5.000 em 50.000… o que torna a coisa um “mar de tranquilidade” perto de outros estádios (incluindo aqueles em que esses 5.000 estão sozinhos e fazem o real “barulho” entre adversários!

    Admitamos que somos uns “mansos em casa”, que desmoralizamos ainda mais do que a equipa à primeira contrariedade e … ficamos a “rezar ao Criador por milagres” em vez de puxar pela equipa e “hostilizar” os adversários e… quem mais merecer!
    Vivamos com isso… ou mudemos isso!

    • Tiago

      Abril 11, 2023 at 7:26 am

      (Traz) e não (trás), desculpem o erro no texto

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